PREGAÇÃO

Servos Inúteis

Lc 17.7-10      46 minutos      29/09/2002         

Mauro Clark


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7  Qual de vós, tendo um servo ocupado na lavoura ou em guardar o gado, lhe dirá quando ele voltar do campo: Vem já e põe-te à mesa?

8  E que, antes, não lhe diga: Prepara-me a ceia, cinge-te e serve-me, enquanto eu como e bebo; depois, comerás tu e beberás?

9  Porventura, terá de agradecer ao servo porque este fez o que lhe havia ordenado?

10  Assim também vós, depois de haverdes feito quanto vos foi ordenado, dizei: Somos servos inúteis, porque fizemos apenas o que devíamos fazer.

 

Versículos 7-9: 

Jesus quis transmitir uma lição aqui e o primeiro passo foi imaginar uma situação: um homem de posses, que tinha fazenda com muitos servos (ou escravos), gado e plantação.

Um dos servos entra em casa, após os serviços do dia, no momento da refeição.

Jesus pergunta a cada um: Se você fosse o fazendeiro, convidaria o escravo para sentar à mesa e comer junto com você?

É importante lembrar que na época, comer era sinal muito forte de sociabilidade, até mesmo de comunhão.

O próprio Jesus assume que seria uma situação estranha, e parte para o que seria normal: o senhor mandaria o escravo servi-lo durante toda a refeição e depois o escravo comeria (claro que não na companhia do patrão).

Mas a cena fictícia ainda não terminara: Jesus lembra que não haveria necessidade do amo  agradecer ao escravo por este ter cumprido o que lhe fora ordenado. Não fizera mais que a obrigação.

 

Até aqui tudo muito claro, numa situação simples que uma criança entenderia.

Mas faltava o principal: a aplicação. O que Jesus teria a ensinar com aquilo?

Talvez houvesse até alguns discípulos pensando:

Vamos ser chefões no governo do Mestre e Ele já está nos treinando para dar ordens e sermos duros ao exigir obediência. E nem precisamos agradecer! Puxa, isso está ficando bom demais!

Se foi o caso, o sonho estourou ligeiro como bolha de sabão.

 

Versículo10:

Na aplicação, o escravo era cada um dos discípulos!

Temos de reconhecer que essas palavras são um pouco chocantes para nós.

É o tipo de passagem que duvidamos se estamos mesmo lendo! Parece tão diferente daquela maneira afetuosa com que Jesus se dirige aos dEle.

Será que os discípulos aprontaram alguma, para levar Jesus a dizer essas palavras realistas e duras de ouvir? Não sabemos. O fato é que são conceitos necessários e muito importantes para considerarmos.

 

Quero considerar quatro pontos:

1) O discípulo de Cristo é servo dEle.

Serei mais direto: é escravo dEle.

A idéia choca, pela imagem brutal que temos de escravo: um homem amarrado a um tronco, as costas feridas, semi desfalecido. Ou no mínimo, alguém explorado, obrigado a trabalhar arduamente, sem qualquer recompensa ou mesmo um reconhecimento.

Mas escravo basicamente é alguém que foi legalmente comprado por outro e por isso tem obrigação de servir totalmente ao seu senhor por toda a vida.

Não defendo a escravatura (aliás, abomino-a), mas é importante lembrar que existiam amos bondosos, a quem os escravos se apegavam.

Dentro desse conceito, repito a pergunta: De vez em quando você se lembra que é escravo de Cristo? Que foi comprado por Ele e, por isso, está obrigado a servi-Lo em tempo integral e por toda a vida?

 

É importante não tirar isso da mente, pois é a verdade.

Ah, mas na passagem Jesus não disse que o amo era Ele. Isso é implícito.

Além do mais veja as passagens a seguir:

Jo 13.13 Vós me chamais o Mestre e o Senhor e dizeis bem; porque eu o sou..

 

O discípulo de Cristo foi comprado por Ele:

1Co 6.20 Porque fostes comprados por preço. Agora, pois, glorificai a Deus no vosso corpo.

 

A moeda da compra foi o sangue dEle:

At 20.28 Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes a igreja de Deus, a qual ele comprou com o seu próprio sangue.

 

Uma observação: Quando falei em tempo integral, não quis limitar-me ao serviço de pastor ou missionário. Não é isso que caracteriza ser servo de Cristo, mas ser comprometido com Ele e obedecer enquanto vive, dia a dia, independente da atividade.

 

2) Temos coisas que nos foram ordenadas por Ele, para fazermos

… depois de haverdes feito quanto vos foi ordenado…

Qualquer empresa, seja um sofisticado laboratório de remédios ou uma rude fazenda no interior, tem ordens definidas para os diversos empregados.

Algumas ordens são de alcance geral, vale para todos. Outras são particulares, específicas de cada função e mesmo dentro da mesma função, pode variar segundo cada funcionário.

Certamente um dos fatores que diferenciam um bom empregado de um mal empregado, é a capacidade de compreender exatamente qual a missão dele.

Ou, em outras palavras, o que o patrão quer que ele faça.

O primeiro passo para eficiência no trabalho é a compreensão perfeita da tarefa.

E virce versa: nunca um empregado será eficiente enquanto não entender o que lhe compete fazer.

 

Quanto a Jesus, Ele tem ordens para os Seus servos. Algumas são gerais, válidas para todos. São os mandamentos que estão na Bíblia.

E há os mandamentos particulares, enviados através do Espírito Santo, para cada crente, conforme o dom, a capacidade pessoal, etc. 

É fundamental que cada crente compreenda o que precisa fazer, qual a sua tarefa.

Imagine uma grande fábrica, todo mundo trabalhando, e um funcionário andando, sem rumo.

O chefe chega e pergunta porque ele não está produzindo: Porque ainda não entendi bem o que devo fazer. Patético, não?

E você acha que é menos patético um crente perambulando pela vida, sem saber qual a sua tarefa para o reino de Deus?

Não vou desenvolver esse ponto, mas quero deixar duas coisas para você pensar:

a) As ordens gerais estão na Bíblia: estude seriamente.

b) As ordens particulares não são tão fáceis de perceber. Ore, envolva-se com Cristo através da Sua igreja e mantenha a consciência limpa.

 

O terceiro ponto é consequência direta do segundo:

3) Depois de entendermos as ordens, temos de fazer tudo o que nos foi ordenado.

… depois de haverdes feito quanto vos foi ordenado…

 

Quando o empregado recebe uma ordem do patrão, não é opção fazer ou não. É obrigatório.

Imagine você dizendo para o seu chefe: Não fiz porque não concordo, ou porque estou com preguiça, ou porque não gosto dessa tarefa.

Seria despedido no ato. E se fosse escravo seria duramente punido.

 

Em geral, o empregado leva muito a sério uma ordem que recebe na emprea. Ele se esforça ao máximo, faz questão de mostrar serviço, quer agradar, quer ao menos ser notado.

Dizem que os empregados da Ford iam para o corredor quando o chefão Henry Ford passava a caminho do seu gabinete. Eles queriam apenas ser vistos pelo patrão.

 

Tenho a sensação de que alguns crentes encaram as ordens de Cristo como opcionais.

Não levam muito a sério o que Ele manda. Demoram a obedecer e quando fazem, é com desleixo.

Sim, posso dar vários exemplos: batizar-se, pagar dízimo, pedir perdão, tratar pendências com pessoas, falar o Evangelho, servir na igreja, manter-se puro, ser exemplo, orar, ter comunhão com Deus.

 

Þ Você se enquadra na situação que Jesus falou: … depois de haverdes feito tudo o que vos foi ordenado? Dentro dos seus limites, espero que sim.

 

Vamos ao quarto e último ponto, e esse é o que choca um pouco:

4) Mesmo tendo feito tudo, somos inúteis.

Para entendermos o que Jesus quis dizer, é importante entendender exatamente o sentido da palavra inútil.

Não significa que não presta para nada: o servo da história prestava para cuidar da lavoura, do gado e servia à mesa do patrão.

Ainda bem que o próprio Jesus explica: … Porque fizemos apenas o que devíamos fazer.

Inútil aqui se refere a alguém que não fez mais que a obrigação e por isso não tem valor especial, não tem mérito e nem se coloca na posição de exigir agradecimento ou recompensa.

 

- Mas, pastor, isso é muito duro! É assim que Cristo nos vê?

Por um aspecto, sim. E Ele nos vê assim porque essa é a realidade.

Mas o que Jesus queria mesmo não era ensinar como Ele nos via, mas como nós devemos ver a nós mesmos!

Ele sabe que somos meio irresponsáveis, inconsequentes, preguiçosos. Amanhã eu faço.

Ah, isso é mais gostoso. Sou tímido! Não sei o meu dom. Tem quem faça.

 

- Mas a Bíblia não fala em galardões, recompensas?

Sim, mas eles existem não pela obrigação de Deus em nos dar, mas pela pura graça dEle.

Certamente esse foi um ponto muito importante que Jesus quis ensinar aqui (embora implicitamente).

É um ataque direto aos fariseus, que davam ênfase exagerada às recompensas pelo trabalho religioso.

Nunca esqueça: Deus não tem nenhuma obrigação de recompensar ninguém que O obedece.

 

Término com 4 observações:

a) O compromisso que você fez com Cristo na conversão é muito sério. Você colocou-se debaixo do senhorio dEle. Você é escravo dEle. Encare com muita seriedade as ordens dEle e cumpra-as até o seu limite.

 

b) Veja o perigo do Evangelho fácil, tão popular hoje, que mostra Jesus quase suplicando que pessoas aceitem-No como Salvador. E, pior, dá a entender que aceitar Jesus é algo superficial, uma adesão a uma Pessoa interessante, ou um simples desejo de mudar de vida.

Não pregue esse tipo de Evangelho. Mostre todos os aspectos, incluindo esse: Você quer se tornar escravo de Cristo? Claro que Ele é um Senhor maravilhoso e servi-Lo é um prazer, mas que você vai ser escravo, vai.

Indo mais fundo: Você vai trocar de amo, pois você já é escravo do seu pecado e do Diabo.

 

c) Se o servo que faz tudo o que o senhor mandou é inútil, imagine o que não faz, ou faz pouco!

O crente que age assim será punido. Em amor, mas uma punição que poderá doer muito.

 

d) Valorize mais a graça de Deus sobre você.

Todas aquelas passagens que falam do cuidado de Cristo por nós (suas ovelhinhas), do carinho, do amor, tudo é fato. É um outro aspecto do relacionamento dEle conosco. Mas não por mérito nosso. Não por obrigação dEle. É puro favor, pura misericórdia.

Claro que saber isso deve produzir uma vontade ainda maior de servi-Lo. Não apenas por obrigação, mas com muito gozo!

 

Que o nosso Amo, nosso Senhor, nosso Dono, nos abençoe!

 

- Amém -

 

Mauro Clark, 72 anos, pastor, pregador e conferencista, foi consagrado ao ministério em 1987. Iniciou em 2008 a Igreja Batista Luz do Mundo, que adota a posição Batista Regular. Mauro Clark é também escritor. Produziu artigos em jornal por dez anos e tem escrito vários livros de orientação e edificação cristã. Em 2004 instituiu o Ministério Falando de Cristo.
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