PREGAÇÃO

Grande diferença entre nós e os animais (Série ECLESIASTES 9)

Ec 3.16-22      54 minutos      14/02/2021         

Mauro Clark


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Salomão continua nas suas observações sobre a vida embaixo do sol.

v.16

Numa só frase, passa um veredito duro sobre a raça humana: reina a maldade.

Interessante: ele não se limitou apenas a dizer que notou que a maldade predominava, mas chegava a reinar no lugar de coisas boas, no caso:

Juízo: hebr. mishpat = justiça, no sentido de fazer justiça, dar o direito a quem merece.

Justiça: hebr. tsedeq = reto, direito,

Essas é quem deveriam estar reinando. Mas o fato é que a maldade predominava. 

Triste observação! Ainda bem que Salomão escreveu há três mil anos, hoje tudo mudou, os homens são mais civilizados... não é? Nada disso! O homem é igual.

Aliás, parece que a maldade aumentou, está ao nosso redor.

Dois aspectos que parecem indicar que tudo piorou:

1) população aumentou e 2) a mídia aumenta o grau de informação.

Mas, a rigor, a natureza humana continua tão má quanto antes.

Importante: Salomão não disse que o bem é inexistente, mas que a maldade prevalece. 

Não espere muito das pessoas, dos governantes, da humanidade.

Essa ingenuidade é prejudicial, pois causa expectativa não cumprida, frustração.

O crente é para ser uma pessoa altamente lúcida, realista.

Deve procurar fazer o bem, amar a todos, mas sabendo que não será correspondido à altura e que a maldade generalizada não terminará enquanto Cristo não vier.

 

Mas, reina a maldade e ficará por isso mesmo?

v.17

Não, não ficará assim mesmo. Aliás, nada ficará como se não tivesse acontecido.

Deus julgará o justo e o perverso, ou seja, todos.

Quando Deus fará esse julgamento? Não especifica.

Alguns acham que se refere a julgamentos aqui mesmo, nesta vida.

Outros (como eu) acham que trata mais do futuro, embora implicitamente. Talvez ambos!

Acho que Salomão cria em vida após morte. Acabara de falar em eternidade (v.11).

No final do livro ele dará outra pista (12.7).

Aos que se entregam à maldade, uma ameaça: “Não pensem que escaparão impunes”.

Repete que há tempo para todo propósito e para toda boa obra - ou seja, Deus controla tudo. Um dia, lá na frente, Ele pedirá contas e lhes condenará.

 

v.18-20. Trecho difícil. Explicação do todo:

Um dos motivos pelos quais Deus permite muita maldade no mundo é para que cada um conclua que o ser humano é tão malvado que pode ser comparado a um animal.

E não apenas no comportamento bestial, mas noutra semelhança: o fim da vida aqui.

O homem respira, mostrando sopro de vida (ou espírito: hebraico ruwach = espírito, vento, e outros significados).

O animal também respira, mostrando sopro de vida.

O homem morre, é enterrado, volta ao pó.

O animal morre, é enterrado, volta ao pó.

Por esse prisma, ou seja, pelo final do aspecto físico da vida embaixo do sol, nenhuma vantagem tem o homem sobre os animais.  

Um morre, o outro também morre e depois enterra.

Para efeito da vida aqui embaixo, acabou tudo.

Mesmo que o homem fale, seja mais inteligente, tenha noção de vida, especule, invente, se expresse, ganhe dinheiro, compre coisas, etc., e os animais não tenham isso - a verdade é incontestável: os dois terminam numa cova, sem fôlego de vida.

E se não enterrar logo, os dois vão cheirar mal e apodrecer rapidamente.

Até aqui o raciocínio é claro, incontestável.

Mas fica uma pergunta no ar:

Então, no aspecto físico, e debaixo do sol, o homem é semelhante aos animais.

Mas em que isso pode ser considerado como prova de Deus para os homens? Em que os homens são provados nisso?

 

v.21

Difícil. Duas interpretações:

1) Salomão estaria dizendo que é impossível saber se o espírito do homem vai para cima e o dos animais para baixo. Simplesmente, ele não tinha a resposta. 

2) Salomão, perguntando de maneira retórica ou até mesmo afirmando diretamente, estaria afirmando que, de fato, diferença entre homens e animais.

Mas que, mesmo assim, muitos não levam isso em consideração, vivem como se não soubessem, desprezam.

Saber: hebr. yada: tem também sentido de considerar, de notar, observar, interessar-se.

Como se fosse: “Quem considera, ou quem se interessa que o fôlego de vida…?”

Prefiro essa 2ª. opção:

* Combina com o fato dos homens terem a eternidade no coração (como ele disse)

* É coerente com a noção de Salomão de que o homem volta a Deus: 12.7

* Jó, do tempo de Salomão ou mais antigo, cria na salvação pós morte: Jó 19.25.

Isso indica que devia ser generalizada (embora confusa) a noção de vida após a morte, inclusive a prestação de contas com Deus.

Tem mais sentido a ideia de que Deus prova os homens quando coloca diante deles a aparência de semelhança com os animais. 

Respondendo à pergunta sobre o teste: Deus coloca diante do homem duas realidades.i) Interna: noção de eternidade, dentro do coração.

Como o homem natural é separado de Deus, essa noção, apesar de forte e real, torna-se meio vaga, distante, como se a eternidade fosse coisa remota. Mas a noção está lá. 

ii) Externa: a morte física, que é igual à dos animais, é uma realidade inquestionável, até a criança percebe. 

A prova seria em ver se o homem levará a sério essa noção de eternidade dentro dele,

mesmo vendo a morte todo dia e o homem pateticamente voltando ao pó.

Ou se vai aproveitar que a vida física termina aqui, para deixar em segundo plano a eternidade, e dar plena vazão aos seus instintos, prazeres e pecados. 

É fácil observar que muitos misturam as duas realidades: adotam uma religião para aliviar o vazio interior e satisfazer um pouco a noção de eternidade, mas na realidade vivem praticamente como querem, fazendo o que bem entendem.

O problema é que “fazer o que bem entende” para quem tem a natureza pecadora, inclui larga dose de maldade.

E aí vemos uma conexão com os v. 16-17.

Deus não aceitará de ninguém a desculpa de que vive fazendo o que quer, inclusive praticando o mal, como justificativa de que morrerá como animal e findará voltando ao pó.

Quem agir assim, foi reprovado na prova que Deus colocou.

Ele quer que cada um valorize a noção de eternidade, busque, explore.

Será por aí que o homem descobrirá a verdade e encontrará a vida, a salvação em Cristo. 

A frase mais dita num cemitério é: “Pois é, a vida aqui não vale nada mesmo”.

O tom é quase de autocrítica: “A vida não vale nada, mas vivemos como se valesse, querendo aproveitar cada minuto porque vamos terminar mesmo numa cova”. Mas antes de deixar o cemitério, já está pensando nos negócios. 

É aí onde entra a pergunta de Salomão: “Quem é que está interessado em saber se o homem vai para Deus? Não estão valorizando isso e nem preocupados com isso.”

Infelizmente muitos crentes chegam perto dessa atitude.

 

Após essas considerações Salomão tira a conclusão:

v.22

Conclusão intrigante; à primeira vista parece até que concorda que não há mesmo nada depois da morte. Logo, cada um faça o que bem entende e ponto final.

Já expliquei que essa não era a convicção do autor. O que então significa?

A chave está no final do versículo:

Quem fará voltar para ver o que será depois dele?

A ideia é: o que se segue aqui na terra não será acompanhado por quem morre.

Passou o tempo dele. O caixão encerra tudo referente à existência terrena, ninguém vai continuar indefinidamente aqui.

Assim, cada um deve alegrar-se nas suas obras, porque essa é a sua recompensa.

Para mim, fica implícita a expressão na terra, após a palavra “recompensa”.

Em suma: a satisfação na terra pelo que se fez na terra é a recompensa que o homem tem enquanto está na terra.

Mas Salomão tem em vista aqui o crente ou não crente? Acho que todos.

Não crente: Não leva em consideração que vai prestar contas com Deus, vive na carne e as suas alegrias estarão por aqui mesmo. Depois, condenação. 

Crente: Mesmo olhando para o alto, na terra ele tem trabalho, obrigações, compromissos.

Então deve tratar de viver de modo a ter alegria aqui na terra, pois o tempo na terra irá terminar um dia (se Cristo não voltar antes. E mesmo se voltar, seremos transformados, então já não vale o que Salomão tinha em vista).

Obviamente o tipo de alegria que temos é diferente do tipo de alegria do não crente.

Mas o princípio é o mesmo: sendo o tempo na terra limitado, então o melhor que cada um deve fazer é procurar viver de tal modo que se alegre aqui - cada um nos seus padrões. 

Resumo da lição:

Embora o nosso tempo aqui seja passageiro, e não sejamos desse mundo, a vida na terra é importante e o que fazemos com o nosso labor aqui interessa muito a Deus.

Portanto, como já comentamos antes, não é errado o crente procurar ter alegrias lícitas e aproveitar o máximo que essa vida tem de bom, de belo, de bonito, de agradável.

Foi o nosso Deus quem colocou todas essas coisas aqui.

Vamos nos alegrar em Cristo com as nossas obras aqui na terra, enquanto aqui estamos.

Que Deus nos abençoe. Amém

Mauro Clark, 72 anos, pastor, pregador e conferencista, foi consagrado ao ministério em 1987. Iniciou em 2008 a Igreja Batista Luz do Mundo, que adota a posição Batista Regular. Mauro Clark é também escritor. Produziu artigos em jornal por dez anos e tem escrito vários livros de orientação e edificação cristã. Em 2004 instituiu o Ministério Falando de Cristo.
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