PREGAÇÃO

Rm 9-3 - Deus Injusto? Nunca!

Rm 9.14-18      43 minutos      11/01/2004         

Mauro Clark


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14  Que diremos, pois? Há injustiça da parte de Deus? De modo nenhum!

15  Pois ele diz a Moisés: Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia e compadecer-me-ei de quem me aprouver ter compaixão.

16  Assim, pois, não depende de quem quer ou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia.

17  Porque a Escritura diz a Faraó: Para isto mesmo te levantei, para mostrar em ti o meu poder e para que o meu nome seja anunciado por toda a terra.

18  Logo, tem ele misericórdia de quem quer e também endurece a quem lhe apraz.

 

Na mensagem passada, comentando os versículos11-13, dissemos  que o motivo pelo qual Deus escolheu Isaque e aborreceu-se de Esaú não foi por causa de atitudes deles em vida. Ou seja, não foi por obras!

A escolha de um e a não escolha de outro ocorreram antes deles nascerem!

Isaque não havia feito uma só boa obra quando foi eleito. Esaú não havia feito uma só má obra antes de se tornar alvo do aborrecimento de Deus.

Essas decisões estavam guardadas no íntimo do coração de Deus.

Falei que alguém poderia dizer: Mas isso não é justo da parte de Deus!

Foi exatamente essa reação que Paulo imaginou que os seus leitores teriam.

 

Versículo 14

Paulo pergunta e logo responde: de modo nenhum! E inicia trecho sobre justiça e soberania de Deus, tanto no exercício da misericórdia, quanto no exercício do endurecimento de alguém.

A explicação de Paulo, à primeira vista, é meio frustrante, mas extremamente útil para aprendermos sobre o nosso Deus:

 

Versículo 15

Voltemos1450 anos antes de Paulo: Êxodo 33.18-23

Moisés pede para ver a glória de Deus, não só por vontade pessoal, mas como demonstração de que Deus não abandonaria Israel, após o incidente com o bezerro de ouro. Deus diz que lhe atenderá em parte (verá algo da glória dEle e as costas, mas não a face).

Mas o Senhor trata logo de deixar algo bem claro, com a frase que Paulo reproduz aqui: terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia e me compadecerei de quem eu me compadecer.

Ou seja: Moisés, vou atender o teu pedido de não abandonar Israel e de aparecer a ti, mas farei isso não por obrigação, mas por pura misericórdia.

 

Quando eu disse que a explicação é meio frustrante, é porque essa frase parece um jogo de palavras, que não quer dizer coisa alguma. Tipo: Eu vou viajar para onde eu vou viajar. Não explicou nada, não esclareceu nada.

Mas é exatamente na falta de explicação que reside a força dessa afirmação. Aqui não é um homem falando, mas Deus! E quando se trata de explicar motivações íntimas, muitas vezes Deus simplesmente não explica! E faz questão de deixar claro que não explica mesmo.

Quando Ele diz terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia, é como se fosse terei misericórdia de quem eu tiver vontade de ter misericórdia. Ou “vou ter compaixão de quem eu quiser. E pronto.”

 

Uma vez colocado o princípio, Paulo tira uma conclusão:

Versículo 16

Quando se trata de alguém se encaixar nos planos salvíficos de Deus, isso não dependerá do mero desejo ou do esforço da pessoa, mas de Deus querer usar a Sua misericórdia.

Þ Importante: isso não significa que a vontade ou esforço humanos não entram em consideração no processo de salvação.

* Jesus reclamou que os judeus não queriam vir a Ele para terem vida (João 5.40).

* Ele também disse que a quem bate, se abrirá (Mateus 7.7-9).

Mas a essência da verdade do versículo 16 é que sem a misericórdia de Deus, a vontade e esforço humanos não adiantam nada.

 

Este ponto pode parecer sutileza teológica, mas na prática é comum pessoas muito religiosas, que trabalham, se esforçam, mas nem lhes passa pela cabeça a idéia de que precisam da compaixão de Deus. Não se prostam diante de Deus exclamando Senhor, sou um pobre pecador que não mereço nada, tem misericórdia de mim!

 

Tendo tratado da justiça de Deus quanto ao exercício soberano da misericórdia, agora Paulo se volta para a soberania de Deus quanto ao endurecimento dos pecadores não salvos.

 

Versículo 17

O Faraó do tempo de Moisés resistiu muito em deixar o povo sair, depois se arrependeu.

Antes da sétima praga, mais um encontro de Moisés com o Faraó: Êxodo 9.13-18

Deus já poderia ter eliminado o teimoso e arrogante monarca há muito tempo. Mas não quis. Ou seja, se Faraó ainda estava vivo e no seu cargo, não era pelo poder e decisão dele, mas porque Deus quis mantê-lo assim.

E porque Deus quis desse modo? para mostrar em ti o meu poder e para que o meu nome seja anunciado em toda a terra

Veja como Deus tem ele próprio em vista ao manter o Faraó!

Aliás, Deus sempre mantém a Sua própria glória em vista:

ü      Israel no Egito estava idolatrando e Deus pensou em destruir o povo lá mesmo. Mas sabe porque não o fez? Por amor do nome dEle próprio: Ezequiel 20.6-10

ü      Ele levantou Israel e trata Israel com atenção especial para a glória dEle: Isaías 46.13; Jeremias 13.11

ü      Ele usa as pessoas, paises, a história, para realizar os planos dEle e assim ressaltar a própria glória: Romanos 11.36

 

Ora, dentro dessa perspecitva, que autoridade o homem tem de falar de justiça ou injustiça de Deus?

Quando se diz isso foi uma injustiça pressupõe-se um padrão de justiça, do qual aquele ato se desviou.

Mas por qual padrão alguém vai julgar a Deus? O padrão é Ele mesmo! E como Ele vai se desviar de Si mesmo?

Não é difícil perceber que é impossível Deus fazer um ato de injustiça!

 

Paulo conclui essa parte da sua argumentação:

Versículo 18

A metade desse versículo repete o versículo15: Deus tem misericórdia de quem quer. Já explicamos.

Mas a outra metade é novidade e ainda mais ousada: e também endurece a quem lhe apraz

* Se para expor a Sua glória Deus quis ter misericórdia de Moisés e aparecer a ele, assim fez.

* E se, por outro lado, para mostrar o poder dele ao mundo e glorificar o nome dEle (Deus) na terra, achou necessário endurecer o coração de Faraó, Deus não hesitou em fazê-lo.
  Importante observar que Faraó era pecador e mereceu o endurecimento: Deus agiu como Juiz.      

Aliás, qualquer pessoa nasce pecadora e merece um julgamento da parte de Deus.

Þ Interessante: é comum o argumento de que, conforme relatos em Êxodo, Deus só endureceu o coração de Faraó depois que ele próprio, Faraó, já endurecera a si mesmo várias vezes. De fato, percebe-se isso na seqüência e esse argumento pode ter alguma validade.

Mas é importante notar que Paulo nem de longe usa esse argumento aqui em Romanos.

Simplesmente diz que Deus endureceu a Faraó porque quis e tinha direito de agir, como Juiz que sentencia um transgressor.

Ou seja, Paulo não tem a menor preocupação em ficar se explicando em falar dessa maneira.

Ele nunca teve o menor constrangimento em falar da total soberania de Deus.

E esse é o tom do Velho Testamento: Isaías 55.11; Jó 9.1-12; Daniel 4.34-35

 

Quanto à questão da explicação de Paulo ser meio frustrante, na realidade é frustrante para quem quer compreender a fundo a justiça de Deus. Mas para quem reconhece que Ele é Deus, que tem os pensamentos acima do nosso, e que tem direito e poder de fazer o que bem entende, então a explicação não tem nada de frustrante.

Ao contrário, nos leva a adorar ainda mais esse Deus poderoso.

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A partir desse ponto (versículo 18), Paulo considera demonstrada a sua tese de que Deus não comete qualquer injustiça quando tem misericórdia de um e endurece a outro.

A tese não recorreu a sofisticados pensamentos filosóficos, nem grandes raciocínios.

É de uma simplicidade desconcertante:

* Se ao escolher Jacó e rejeitar Esaú, Deus estava visando à Sua própria glória, está tudo certo.

* Se exerceu misericórdia com Moisés e endureceu ao Faraó, e fez isso pela própria glória, está certo.

* Se ao escolher o Raimundo e rejeitar o Joaquim, Deus está visando a Sua própria glória, não há aí qualquer injustiça.

 

Na próxima mensagem veremos algo muito interessante: é como se o questionador imaginário tivesse se conformado com a explicação de Paulo sobre a justiça divina, mas agora levantasse uma outra questão.

 

1) Nunca chame Deus de injusto! Além de estar dizendo uma grande bobagem, falando o que não entende, pior: está blasfemando contra Deus, chamando-O de mentiroso. Pois Ele mesmo diz que é justo: Isaías 45.21-24

 

2) Não se frustre quando não conseguir compreender a justiça de Deus. Isso não é pecado. Pecado é você, pelo fato de não entender, começar a duvidar da justiça dEle.

Confie nEle e diga: Senhor, estou achando difícil ver a tua justiça aqui, mas tenho certeza de que ela está em algum lugar e eu é que não estou vendo!

 

3) Você, não crente: é ótimo que esteja se esforçando para ouvir o Evangelho, buscando, etc. Mas nunca esqueça: você precisa desesperadamente da misericórdia de Deus em sua vida!

 

Que Deus nos abençoe.

 

- Amém -

Mauro Clark, 72 anos, pastor, pregador e conferencista, foi consagrado ao ministério em 1987. Iniciou em 2008 a Igreja Batista Luz do Mundo, que adota a posição Batista Regular. Mauro Clark é também escritor. Produziu artigos em jornal por dez anos e tem escrito vários livros de orientação e edificação cristã. Em 2004 instituiu o Ministério Falando de Cristo.
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