Dai esmolas

33  Vendei os vossos bens e dai esmola; fazei para vós outros bolsas que não desgastem, tesouro inextinguível nos céus, onde não chega o ladrão, nem a traça consome,
34  porque, onde está o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração.

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Afirmação curta e forte. Muito cuidado na interpretação.

Darei ênfase na 2ª. parte do versículo. Mas vejamos algumas considerações preliminares.

* Embora houvesse uma multidão presente, Jesus fala aos Seus discípulos (v.1,22,32).

* Esta não é uma ordem geral, para todos os crentes de todas as épocas darem tudo o que possuem. É importante considerar que Jesus:

   * Estava falando diretamente a pessoas de determinada época, cultura e circunstâncias religiosas.

   * Estava em plena fundação da Sua igreja. A partir daquele ponto Ele precisava mudar a inércia de um povo acostumado com religião de fachada, de hipocrisia. Essa ordem não teria sentido na rotina da igreja. Paulo nunca mandou as igrejas venderem tudo.

   * Estava em fase de arregimentação de discípulos, alguns dos quais deveriam segui-Lo fisicamente. E mesmo depois da morte dEle, precisariam sair pelo afora pregando o Evangelho. Para isso teriam de deixar seus bens literalmente.

  As igrejas hoje são formadas por pessoas que moram e trabalham em determinado local. Não teria sentido todos os crentes venderem tudo o que têm. Claro que para alguns com chamadas especiais, isso ainda hoje é exigido.

    * Esteve com pessoas (algumas crentes e outras em processo de conversão), que tinham bens e não falou do assunto, mesmo tratando de salvação e coisas profundas, como Nicodemos, Marta e Maria, Mateus, Zaqueu (esses dois eram ricos).

Mas essa considerações não devem servir de desculpa para não sermos generosos, achando que essa passagem nada tem a ver conosco.

Ao contrário: o princípio é bem claro.

Jesus condena o acúmulo de bens como prioridade do crente: Mt 6.19

Até a simples preocupação com bens materiais Ele proíbe: Mt 6.31-32

Além disso, Ele incentiva abertamente e com insistência a doação, a oferta, a esmola: Lc 6.33-36

E é sobre esmolas que vamos jogar a ênfase hoje.

Dois motivos pelos quais Jesus nos ordenou a dar esmolas:

1) Olhando pelo ponto de vista do crente

O crente exercita-se espiritualmente, aprende a colocar em prática o que já sabe na teoria. Ou seja:

* Que as coisas daqui são secundárias. O importante é ter em vista o reino de Deus.

* Que Deus deseja que o crente reconheça que tudo o que tem foi dado por Ele. E a melhor maneira de reconhecer isso é dando, repartindo.

Se ganhou, então aprenda a dar.

* Que é saudável viver sem luxo, sem excessos (mesmo com padrões pessoas diferentes. O que é luxo para um, pode não ser para o outro).

Mas seria muito egoísmo darmos apenas para o nosso próprio proveito.

Há um 2º. aspecto:

2) Olhando pelo ponto de vista de quem recebe

A esmola alivia o sofrimento de necessitados.

Não temos obrigatoriamente de acabar com a pobreza (alias, seria mesmo impossível: Dt 15.11; Mt 26.11).

Mas temos obrigação de aliviar o sofrimento de quem pudermos.

Observe como dar esmola é juntar o útil ao agradável: útil porque nos edifica; agradável porque ajuda a outros, e isso gera alegria a todos!

Esse é o tipo de obrigação leve de cumprir coerente, aliás, com o fato de que o fardo de Cristo é leve (Mt 11.30).

E não acharmos leve, é porque estamos sendo duros de coração.

Mas isso não muda o fato de que Deus é muito misericordioso em nos mandar fazer coisas tão agradáveis de serem cumpridas.

Um dentista me disse que sua irmã ajudava tanto as pessoas que nem dormia direito, de tanta alegria.

Dois obstáculos que nos impedem de dar esmolas ou ajudar pessoas:

1) Idéia insistente de que temos menos do que precisamos.

Estamos sempre com planos de comprar, reformar, viajar, etc.

Claro que em princípio nada isso está errado.

O problema é tendência de fazer um pouco (ou muito) mais do que podemos e assim terminamos nos convencendo sinceramente de que nós é que estamos necessitados.

Ora, como é que eu vou ajudar alguém se eu é quem estou precisando?. Esse é o tipo de atitude que mata a espírito da esmola, da ajuda.

2) Somos agarrados demais aos nossos bens, conseqüência da contaminação do mundo, do consumismo. Cuidado!

Termino com Lc 14.33

Não uma renúncia física, externa, imediata, total. 

Mas renúncia interna, de coração, de disposição. Não para ficar só na teoria, mas para quando chegar a oportunidade, estar pronto para dar sem pena, sem tristeza, sem constrangimento, mas com alegria.

Afinal, Deus ama a quem dá com alegria 2Co 9.7b

Que Deus nos abençoe.

Amém