1 Ora, tendo Cristo sofrido na carne, armai-vos também vós do mesmo pensamento; pois aquele que sofreu na carne deixou o pecado, 2 para que, no tempo que vos resta na carne, já não vivais de acordo com as paixões dos homens, mas segundo a vontade de Deus. 3 Porque basta o tempo decorrido para terdes executado a vontade dos gentios, tendo andado em dissoluções, concupiscências, borracheiras, orgias, bebedices e em detestáveis idolatrias. 4 Por isso, difamando-vos, estranham que não concorrais com eles ao mesmo excesso de devassidão, 5 os quais hão de prestar contas àquele que é competente para julgar vivos e mortos; 6 pois, para este fim, foi o evangelho pregado também a mortos, para que, mesmo julgados na carne segundo os homens vivam no espírito segundo Deus.
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v.1-2
Em 1Pe 3.9 Pedro começou a falar do sofrimento, sugeriu comportamentos, atitudes, etc.
No v.18 ele quis reforçar a exortação, lembrando que Cristo também sofreu e morreu, e deve nos servir de exemplo.
Só que tão logo falou na morte de Cristo, fez longo parêntese para falar de vários aspectos do ministério de Cristo, antes, durante e depois da encarnação. Agora ele retorna ao tema do sofrimento de Cristo, que deve servir de exemplo para nós.
tendo Cristo sofrido na carne: no corpo, encarnado. Esse sofrimento envolveu a morte.
armai-vos também vós do mesmo pensamento - Que pensamento? O seguinte:
pois aquele que sofreu na carne deixou o pecado
Frase extremamente difícil, várias interpretações. A dificuldade já começa em saber a quem Pedro se referia.
1) a Cristo: no caso, seria: quando Cristo sofreu e morreu, deixou para trás a questão do pecado que Ele tinha de resolver na cruz. Do NOSSO pecado, é claro, não o dEle.
2) ao crente: nesse caso, duas opções:
a) Quando o crente sofre fisicamente, muda de prioridade, concentra nas coisas do alto; as coisas do mundo vão ficando para trás no sentido de preferência; estaria em vista o processo da santificação. Em suma: o próprio sofrimento aperfeiçoa o crente, afastando-o do pecado.
b) A mais provável. Idéia de que o crente (caracterizado como alguém perseguido e sofredor, morreu para o pecado). Exatamente o que Paulo disse em Rm 6.6-7.
v.2
Seja qual for a interpretação do v.1, o fato é que o normal para o crente é deixar para trás o pecado, nessa vida, ou seja, no tempo que nos resta na carne. E viver o resto da vida não de acordo com as paixões dos homens, mas segundo a vontade de Deus.
v.3: Três observações:
1. Contraste: VONTADE de Deus (v. 2b) x VONTADE dos gentios
Antigamente andamos na vontade dos gentios, ou seja, segundo os princípios pecaminosos dos gentios.Agora, devemos andar segundo a vontade de Deus, ou seja, segundo os princípios dEle.
Uma maneira da definir a diferença entre o crente e o incrédulo, é esta:
Crente: DESEJA de todo o coração andar conforme a vontade de Deus.
Não crente: DESEJA andar conforme os padrões do mundo.
Esses DESEJOS OPOSTOS, tem conseqüências também opostas:
O crente, para poder andar conforme a vontade de Deus, tem que CONHECER essa vontade. Onde? Nas Escrituras. Por isso os crentes estudam a Bíblia (ou deveriam!).
O não crente: para poder andar conforme a vontade dos gentios, do mundo, precisa CONHECER essa vontade. Onde? No próprio mundo. Por isso são tão ligados nas coisas do mundo, na última moda, no artista da vez, na música do momento, na gíria da onda, etc.
Cada crente precisa sempre se AUTO AVALIAR, para ver se sua vida, seus costumes, estão COERENTES com o desejo de andar segundo a vontade de Deus.
(Agora, cá entre nós, você deseja isso mesmo?)
2. Pedro dá uma lista das paixões dos homens
dissoluções: devassidão, libertinagem (NVI); excessos ou perversões sexuais
concupiscência - sensualidade (NVI); grego: desejo bom ou ruim, depende do contexto.
borracheiras - bebedeiras. A Bíblia condena abertamente a bebedice, o uso do álcool para embriaguês. Acho sábio evitar totalmente o álcool, considerando que o alcoolismo é uma das maiores causas da destruição de lares e de vidas, e todo alcoólatra começou com um gole.
orgias: comportamento sexual desenfreado (comum na época, ligado à religião pagã). Infelizmente, a imoralidade ainda impera hoje no mundo.
bebedices (NVI: farras): já comentamos.
detestáveis (ilícitas, NVI: repugnantes) idolatrias: evidentemente alguns leitores de Pedro haviam sido idólatras (especialmente gentios).
A idolatria é o pecado que mais ofende a Deus. Ainda hoje se pratica abertamente repugnantes idolatrias, mesmo falando em Cristo (Tudo com Cristo, nada sem Maria).
3. Expressão forte: basta o tempo decorrido na prática dessas paixões malignas.
Como se Deus dissesse através de Pedro: Vocês ACHAM POUCO o quanto já pecaram contra Mim no tempo da incredulidade? Quinze anos pecando! 25, 40, 60 anos! Acham pouco o quanto já se deixaram levar pelas coisas do mundo que me desagradam?
O pior, irmãos, é que parece que de fato ACHAMOS POUCO. Valorizamos as coisas do alto muito MENOS do que deveríamos. E as do mundo, MAIS do que deveríamos. Pois lembremos sempre que Cristo nos livrou da escravidão do pecado, para que nós nos beneficiássemos disso e também deixássemos o pecado para trás.
Pedro agora trata dos que maltratavam e faziam os crentes sofrer:
v.4
Qual o crente que já não foi acusado por ter resistido a fazer coisa errada?
Por isso os apelidos: pastor, irmão, santinho, etc. A recusa em fazer o mal IRRITA aos que querem praticá-lo.
E mais: a insistência em fazer o bem, ou seja, em fazer o que Deus deseja, também IRRITA aos que não estão comprometidos com Deus.
Por isso colocam lentes tão grandes sobre nós, sempre prontos a uma crítica. Não perdem uma chance de nos chamarem de hipócritas, incoerentes, etc. Exatamente como diz Pedro: difamam.
Algum leitor poderia perguntar: Então eles fazem o que querem, perseguem, difamam porque não queremos pecar com eles, e vai ficar assim mesmo?
v.5
Resposta: Não, não vai ficar assim! Alguém pedirá contas de cada um deles. Quem?
Aquele que é competente para julgar vivos e mortos - deve referir-se a Cristo, que recebeu de Deus o julgamento. Vivos e mortos - na época de Pedro.
Três observações:
1) A ideia de que após a morte tudo se extingue é anti-bíblica. A existência humana continua depois da morte. Do contrário não haveria sentido o julgamento de mortos.
2) Para Deus, tanto faz julgar mortos como vivos. Para nós, a morte é chocante. E nos constrange a maneira quase fria com que Deus trata a morte de pessoas na Bíblia. Mas Deus vê a morte de maneira muito diferente de como NÓS vemos!
A morte não faz cessar a existência, e nem a atuação de Deus naquela existência. Se for salva, será glorificada. Se não, processo de julgamento e condenação.
3)Todos vão prestar contas a Deus.
ssa passagem deve ficar atravessada na garganta de quem não gosta de dobrar o pescoço e se arroga “neste pulso ninguém pega”. Pois Deus vai pegar no pulso, vai dobrar o pescoço e vai deitar no pó os arrogantes, os orgulhosos que não se renderam a Cristo.
E você, amigo, já pensou que a sua morte não significa o fim da sua existência? E que você será pessoalmente julgado por Deus? TODOS serão julgados por Deus, ninguém escapa, nem você! Está PREPARADO?
v.6
Esse texto tem sido alvo de muita polêmica. Os que acham que Cristo desceu ao hades para proclamar o Evangelho, usam-no para dar base à sua interpretação. Dizem que Cristo pregou o Evangelho para pessoas que estavam mortas qando ouviram. Discordo. Acho uma interpretação forçada.
Melhor entender da maneira mais natural: ou seja, o Evangelho foi pregado (por qualquer um, não obrigatoriamente por Cristo) a pessoas que estava vivas quando ouviram, mas que “agora”, ou, no tempo que em Pedro escrevia, já haviam morrido e estavam vivas no espírito segundo Deus. Ou seja, refere-se a crentes.
E qual a conexão lógica entre os v. 5 e 6?
É provável que muitos estranhassem a morte de um crente: se eram salvo, se já tinha vida eterna, por que morrer? A morte não seria sinal de que pessoa não era salva? Não. Quando o crente morre, foi julgado na carne segundo os homens, ou seja, recebeu sobre o corpo a condenação comum a todos os homens, pois todos pecaram. Mas, embora morto, o crente está vivo no espírito segundo Deus, ou seja, espiritualmente vivo, em comunhão com Deus.
Quer dizer que o crente escapou do julgamento quanto ao destino eterno? Não. Ele foi julgado, mas decretado INOCENTE, pois seus pecados foram postos sobre Cristo.
Implícito aos não crentes que a maneira de escaparem da condenação quando fossem julgados por Deus, seria aceitar o Evangelho. Pois assim, mesmo quando morre, já está vivo espiritualmente.
Você, amigo, que tal escapar da condenação eterna, quando for julgado por Deus? Como? Aceitar que Cristo foi condenado por você, morreu, ressuscitou e voltou ao céu. E pedir-Lhe salvação.
Quanto a nós, crentes, fica o desafio: BASTA O TEMPO decorrido em que andamos no pecado. Já foi muito. Cuidemos de agradar a Deus no tempo que nos resta neste mundo.
Que Deus nos abençoe. Amém.