1 Acolhei ao que é débil na fé, não, porém, para discutir opiniões.
2 Um crê que de tudo pode comer, mas o débil come legumes;
3 quem come não despreze o que não come; e o que não come não julgue o que come, porque Deus o acolheu.
4 Quem és tu que julgas o servo alheio? Para o seu próprio senhor está em pé ou cai; mas estará em pé, porque o Senhor é poderoso para o suster.
5 Um faz diferença entre dia e dia; outro julga iguais todos os dias. Cada um tenha opinião bem definida em sua própria mente.
6 Quem distingue entre dia e dia para o Senhor o faz; e quem come para o Senhor come, porque dá graças a Deus; e quem não come para o Senhor não come e dá graças a Deus.
7 Porque nenhum de nós vive para si mesmo, nem morre para si.
8 Porque, se vivemos, para o Senhor vivemos; se morremos, para o Senhor morremos. Quer, pois, vivamos ou morramos, somos do Senhor.
9 Foi precisamente para esse fim que Cristo morreu e ressurgiu: para ser Senhor tanto de mortos como de vivos.
10 Tu, porém, por que julgas teu irmão? E tu, por que desprezas o teu? Pois todos compareceremos perante o tribunal de Deus.
11 Como está escrito: Por minha vida, diz o Senhor, diante de mim se dobrará todo joelho, e toda língua dará louvores a Deus.
12 Assim, pois, cada um de nós dará contas de si mesmo a Deus.
13 Não nos julguemos mais uns aos outros; pelo contrário, tomai o propósito de não pordes tropeço ou escândalo ao vosso irmão.
No capítulo 14 e parte do 15 vai tratar da difícil questão do relacionamento na igreja entre irmãos que pensam de maneira diferente e têm um nível de fé diferente.
Tudo começa com o fato puro e simples de que a consciência de um não é igual à do outro, assim como o nível de cada fé.
Partindo daí, dois grandes erros costumam ocorrer nas igrejas:
1) O crente querer que os outros sigam exatamente os mesmos passos que ele. Se não segue, critica, julga, condena.
2) Mesmo sem criticar os que pensam diferentemente dele, o crente faz o que acha certo, mesmo que isso choque outros.
Hoje veremos o primeiro caso. Na próxima mensagem, o outro.
Ler versículos 1-12
Aqui vemos um ataque duro contra o erro tão comum nas igrejas, do crente querer que os outros procedam exatamente como ele procede. Se isso não ocorre, critica, julga, condena, despreza.
Paulo qualifica dois tipos de crentes.
Versículos 1-2
a) O débil na fé. Esse enxerga valores espirituais em coisas que de fato não têm muita importância. Tem a consciência tão sensível que se recusa a certas práticas não erradas em si mesmas. Acham que são proibidas aos crentes.
b) O outro, embora não propriamente chamado de forte na fé, fica implícito, uma vez que é posto em contraste com o fraco na fé.
Esse se sente mais livre na sua prática cristã. Sua consciência não vê problemas com as coisas que em si não são más.
Importante: Em nenhum momento Paulo discrimina o fraco na fé, ou o considera inferior ao forte.
O conceito de fraco aqui não se refere a baixo nível espiritual. Conforme já falei, é alguém que reprova coisas que não são obrigatoriamente reprováveis diante de Deus.
Dois exemplos são citados (talvez houvesse mais na época):
I) Versículo 2 - Uns não comiam carne de modo algum, apenas legumes (vegetarianos).
Um dos motivos prováveis é que não queriam arriscar comer carne sacrificadas a ídolos (conforme vemos em 1Co 8 e 10). Outros comiam de tudo.
II) Versículo 5 - Uns guardavam certos dias, talvez dentro da lei cerimonial judaica. Outros não faziam nenhuma diferença entre um dia e outro, no sentido de haver mais ou menos santidade no dia em si.
Observação importantíssima:
Paulo não está tratando de atitudes e comportamentos pecaminosos.
O pecado na vida de irmãos deve ser enfrentado, denunciado, tratado.
Aqui se trata de maneiras de proceder não erradas em si mesmas, mas vistas de maneiras diferentes por irmãos.
A questão é complicada porque nem tudo pode ser taxado claramente de pecado (como o adultério) ou claramente de opcional (como ouvir música).
Muitos casos ficam numa linha intermediária; embora não pecados diretamente proibidos pela Bíblia, são considerados tranqüilos para uns, mas duvidosos para outros.
O problema é que até o grau de duvidoso varia conforme cada consciência.
É aí que entra a proibição de julgar. Em assuntos assim, não julgue, não condene.
Paulo estabelece alguns princípios:
1) Não fiquem discutindo sobre essas coisas - versículo 1.
Conversar para saber a opinião dos outros, emitir a sua própria, tudo bem.
Mas polemizar sobre assuntos difíceis, julgando os outros, criticando, isso é errado.
2) Deve haver respeito mútuo: versículo 3.
O mais forte (mais livre) não despreze o mais sensível.
Infelizmente esse desprezo é a tendência natural. O que se sente mais aprovado pela consciência para não se prender a detalhes, começa a se achar mais espiritual e a desprezar o outro, taxando-o de legalista, bitolado, cri-cri, etc.
Mas tem o outro lado: o mais sensível não julgue o mais forte.
Essa advertência é importante porque a tendência é vir o troco: Você é que é carnal, vive fazendo as coisas do mundo, liberal, etc.
Ambos estão errados. Cada um faça o que a sua consciência aprova e respeite o outro.
3) Deus acolhe ambos: versículo 3.
Ambos foram salvos e são amados por Deus. Ambos são filhos de Deus. Os dois têm acesso a Deus. Os dois contam com a ajuda de Deus.
Onde está a idéia de um ser melhor que o outro, aos olhos de Deus?
Se Deus acolhe os dois, por que um não vai acolher o outro?
4) Ambos são servos de Deus: versículo 4.
Se um julgar o outro, está julgando o servo alheio. É Deus quem vai julgar, é a Ele a quem cada um vai prestar contas.
O que importa é o crente tentar permanecer em pé diante de Deus.
E se errar, Deus o manterá em pé, pelo Seu poder. (Acho que aqui se refere a um crente com boa atitude do coração, tanto o mais rígido como o mais flexível).
5) Cada um tenha opinião bem definida em sua própria mente: versículo 5
Por que? Ler versículos 6-9
O crente tem de dar satisfação a Cristo em absolutamente tudo o que faz.
* A maneira como um crente da época compreendia os dias da semana, tinha de ser explicada a Cristo.
* Se o crente comia certa comida, era diante de Cristo que ele comia e dava graças.
* E se outro crente não comia certa comida, era diante de Cristo que ele tinha a sua dieta e dava graças por ela.
* Na vida e na morte o crente tem de estar pensando em Cristo, querendo agradar a Cristo. Quer vivendo ou morrendo, Cristo é o nosso Senhor, do mesmo jeito.
Ele morreu para adquirir o direito de levar para o céu a alma dos que morreram salvos.
Veja a importância de você ter a sua própria opinião nas coisas que faz e deixa de fazer.
Antes de dar satisfação à sua igreja, à sociedade, a quem quer que seja, em primeiríssimo lugar e acima de tudo, você tem de dar satisfação a Cristo.
Uma prestação de contas pessoal, direta, feita continuamente a Ele.
Sabe qual o maior obstáculo para você ter a própria opinião na sua conduta cristã?
A superficialidade - que aliás é um dos grande males da atualidade, com reflexo direto no cristianismo.
A falta de leitura, falta de reflexão, excesso de televisão (tudo vem moído para o telespectador engolir), consultas relâmpagos no Google, falta de conversas sérias entre as pessoas. Tudo muito superficial.
É um paradoxo: as pessoas em geral nunca tiveram tanta informação disponível e ao mesmo tempo são tão rasas.
E não pense que as pregações do pastor, aulas e estudos bíblicos preenchem esse vazio.
Ajudam muito, é claro. Mas a tomada de opinião de cada um precisa ser formada dentro da própria mente, à medida que vai ouvindo de diversas fontes, pensando, refletindo, testando com as Escrituras e assim definindo e assumindo as próprias posições.
Quem não tem opinião própria, termina caindo naquela condição contra a qual Paulo alertou aos efésios:
Efésios 4.14: para que não mais sejamos como meninos, agitados de um lado para outro e levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro.
A título de exemplo, vejamos três situações atuais, que se encaixam no nosso assunto.
1) Comparecer a certos eventos na igreja católica
Há quem acuse irmãos que comparecem um casamento na igreja católica, de só com a presença estar aprovando a idolatria da Igreja de Roma.
Ou se vai a um batizando, então está concordando com o batismo de crianças.
Mas não temos bíblica para essa acusação.
O fato de estar num certo local ou mesmo numa cerimônia, não significa que estamos endossando tudo o que ocorre naquele ambiente.
Em 1Coríntios 8.10 Paulo citou o caso de crente em templo de ídolo, comendo carne sacrificada aos ídolos e não fez nenhuma menção de proibir o fato em si.
O que ele condenou foi o escândalo que isso poderia trazer a outros. Isso é outra questão (apesar de importante, conforme veremos na próxima mensagem).
Ou seja, esse tipo de comportamento é pessoal.
Tem crente que não entra sob nenhuma hipótese em igreja católica. Há outro que não se incomoda em entrar, dentro de certas circunstâncias em que o aspecto social é muito forte, talvez mais que o religioso - como casamento, por exemplo.
O que fazer? Quem se recusa a ir, não julgue ao que vai. E o que vai, não despreze o que se recusa. Ou seja, respeitem-se mutuamente.
Quero ressaltar que não estou incentivando ninguém a freqüentar certos eventos realizados em templos católicos. Depois de convertido, passei alguns anos indo a casamentos de familiares. Depois, resolvi parar completamente.
Respeito a quem não vai, como eu agora; e não julgo a quem vai.
2) Freqüentar esporadicamente cultos em igrejas evangélicas com as quais não mantemos comunhão.
Conforme a Bíblia, não devemos ter comunhão espiritual com igrejas que adotam doutrinas importantes que consideramos estranhas.
Mas freqüência eventual e circunstancial é diferente de comunhão.
Isso é pessoal. Alguns não vão de modo algum a uma igreja carismática, dessas que falam línguas, profetizam, etc.
Outros podem freqüentar, em certas circunstâncias. Pois que se respeitem mutuamente.
3) Adotar o tipo de música que deseja ouvir
Esse assunto é altamente complexo, impossível de se passar uma linha exata.
Vou apenas tocar de passagem, sem aprofundar.
- O crente deve ouvir apenas música evangélica?
Uns dizem: Claro!. Música secular é errado.
Mas quais as definições exatas de música secular e música evangélica?
Evangélica é qualquer uma que fala em Jesus? Mas e a letra, combina com a Bíblia? E o ritmo, o efeito que provoca, e muitos outros fatores? Tudo isso tem de ser considerado.
Outro diz: Para mim, música clássica é tranqüilamente aprovada.
Outros concordam, mas só depois de examinar o tipo de vida que o compositor teve, dois séculos atrás. Se foi beberrão ou homossexual, o crente não pode ouvir.
- E música orquestrada, sem voz, pode? Um diz, É evidente que pode.
O outro replica: Mas e se o ritmo for pesado?
É, com o ritmo pesado, e melhor não ouvir.
Mas vem o colega e complica tudo: E qual a definição de pesado?
Irmãos, tudo isso é muito complexo e cada um tem de traçar os próprios rumos e prestar contas perante Deus. Se estiver causando escândalo, repito, é outra questão.
Mas se não for o caso, cada um deve fazer como a sua consciência aprova e não ficar julgando o outro. Seja discreto, trate de não chocar e não provocar discussões e brigas.
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Paulo encerra essa parte da exortação com uma séria advertência (ou melhor, ameaça):
versículos 10-12
Até aqui, ficou claro que cada um tem de dar satisfação a Deus pelo que faz e deixa de fazer na própria vida.
Agora surgiu mais uma obrigação nossa diante de Deus: dar conta pela maneira como reage aos irmãos que pensam e agem diferentemente de nós.
* Costuma julgar o irmão que faz o que você acha errado? Você vai se haver com Deus.
* Costuma desprezar o irmãozinho que acha que tudo é errado ou pecado? Você vai se haver com Deus.
O tribunal de Deus nos aguarda para julgamento das nossas obras. (Não julgar se seremos salvos ou não; isso já está decidido).
Cada ser humano dará contas diante de Deus, e de maneira humilde, joelhos dobrados diante do Todo Poderoso.
versículo 13
O versículo 13 é um ponto de transição. Paulo claramente sobe de nível.
Estava dizendo que um irmão não devia julgar ou desprezar o outro em coisas de opiniões. Agora vai muito mais fundo. Apenas deixar de julgar ou desprezar não é suficiente.
É importante considerar o bem estar espiritual do outro. Se o que você está fazendo, mesmo não sendo pecado, ofende ou escandaliza o seu irmão, deixe de fazer.
Trataremos isso na próxima mensagem.
Quero encerrar fazendo uma recomendação importante.
Não se aproveite da liberdade cristã para fazer o que é realmente ofensivo a Deus.
Em outras palavras: não confunda fé forte com aprovação para pecar.
Tenha muito cuidado com aquilo que você aprova: Bem aventurado é aquele que não se condena naquilo que aprova (versículo 22b).
Que Deus nos abençoe.
- Amém -