Na última pregação, com base em 2Co 5.17, vimos o que é tornar-se nova criatura.
Terminamos imaginando alguém perguntando:
Mesmo ainda tendo ódio ao pecado, o fato de ainda pecar constantemente não seria uma incoerência com a minha situação de nova criatura? Será que sou mesmo regenerado? Como é torturante essa dúvida!
Abordemos essa questão em 3 pontos:
1) A existência de uma luta espiritual enfrentada por toda nova criatura
Gl 5.17:
... carne: natureza carnal, pecaminosa do velho homem
... milita: grego epiyumew epithumeo = desejar, cobiçar, ansiar
milita (deseja) contra o Espírito e o Espírito contra a carne, porque são opostos entre si:
Espírito: deve ser o Espírito Santo que habita no crente.
Pode ser também o espírito humano regenerado pelo Espírito Santo, o que, na prática daria no mesmo, ou seja: há duas forças dentro do crente desejando exatamente o contrário do que deseja a outra.
A nova criatura é um campo de batalha, é a arena onde essas forças se defrontam.
... para que não façais o que, porventura, seja do vosso querer
Não é claro se Paulo se refere ao Espírito Santo que não quer a carne faça o que deseja ou a carne é que se esforça para que o Espírito Santo não faça o que deseja.
Mas, novamente, na prática dá no mesmo: a luta é grande.
A doutrina de que existem duas vontades dentro de nós é largamente confirmada pela nossa experiência como crentes.
Paulo fala também em termos de VELHO HOMEM e NOVO HOMEM.
Veja que interessantes nas duas passagens:
Ef 4.20-24: exortação para mudarmos
Cl 3.9-10: afirmação de que já mudamos
Como precisamos nos despojar do velho homem, se já o fizemos?
Mesma pergunta, mas de outra forma:
Como precisamos nos desvencilhar do pecado, se somos novas criaturas?
Do ponto de vista da justiça divina, já estamos QUITES pela justificação, que incluiu o perdão dos pecados. Estamos agora regenerados e identificados com Cristo.
Por outro lado, o processo de regeneração não arrancou de nós a natureza pecadora, a tendência de pecar. Ainda ficaram restos do velho homem.
Então, enquanto que em Cl 3.9-10 temos a nossa posição perante Deus, como Ele nos vê (justificados e livres do velho homem), em Ef 4.22 somos desafiados a encarar a luta diária que temos internamente, andando de forma a tirar do caminho (grego apotiyhmi apotithemi) o velho homem corrompido.
Claro que um andar corrompido NÃO É COERENTE com a nossa posição de novas criaturas, mas deveria ser!
É por isso que a Bíblia tanto nos exorta a andarmos como filhos de Deus, que realmente somos. Exemplos dessa incoerência: 1Co 5.7; Cl 2.20-22; Rm 6.2, 12
As exortações bíblicas para agirmos de maneira coerente com o que de fato somos, é como um menino de família, educado, que chega sujo e rasgado em casa, como se fosse um moleque, a mãe diz: Você não é um moleque. Ele não é, mas está agindo como um. A mãe quer coerência.
Importante: Deus quer coerência e nos capacita e vivermos de modo coerente. Veremos isso melhor na próxima pregação.
2) A conscientização da existência dessa luta
Veja a preocupação dos apóstolos Paulo e Pedro a conscientizarem os seus leitores:
Ef 6.11-12; 2Co 10.3-5; 1Pe 2.11
Se não compreender o que está acontecendo o crente fica confuso e até angustiado.
E começa a se perguntar: Será que sou mesmo um crente?
Fique então bem consciente de que dentro de você há uma verdadeira guerra.
Mas... um soldado, mesmo consciente da guerra, pode resolver fugir!
Que atitude deveria ter o crente após se conscientizar da guerra que tem dentro de si?
3) Atitude após a conscientização
Em época de guerra, todos no exército ficam atentos, desconfiados (medo de espiões), cientes para onde devem correr num ataque e, principalmente, preparados para a luta.
Da mesma forma, na guerra que trava contra o velho homem, o crente deve:
* Estar atento 1Pe 5.8
* Ser desconfiado 2Co 11.14-15
* Saber onde se refugiar Pv 18.10
*Preparado para a luta: Ef 6.13; 1Tm 1.18; 1Tm 6.12; Jd 3
Estamos agora todos cientes da realidade da guerra espiritual, da importância de se conscientizar e da necessidade de realmente lutar.
Vamos então à luta? Sim.
Mas... com que armas? E como usá-las para obtermos vitórias?
O famoso ditado o importante é competir vale em jogos, mas não em guerra.
Em guerra, inclusive na guerra espiritual, o importante é vencer mesmo.
É o que veremos na próximo domingo.
Que Deus nos abençoe.