17 Se, porém, tu, que tens por sobrenome judeu, e repousas na lei, e te glorias em Deus; 18 que conheces a sua vontade e aprovas as coisas excelentes, sendo instruído na lei; 19 que estás persuadido de que és guia dos cegos, luz dos que se encontram em trevas, 20 instrutor de ignorantes, mestre de crianças, tendo na lei a forma da sabedoria e da verdade; 21 tu, pois, que ensinas a outrem, não te ensinas a ti mesmo? Tu, que pregas que não se deve furtar, furtas? 22 Dizes que não se deve cometer adultério e o cometes? Abominas os ídolos e lhes roubas os templos? 23 Tu, que te glorias na lei, desonras a Deus pela transgressão da lei? 24 Pois, como está escrito, o nome de Deus é blasfemado entre os gentios por vossa causa. 25 Porque a circuncisão tem valor se praticares a lei; se és, porém, transgressor da lei, a tua circuncisão já se tornou incircuncisão. 26 Se, pois, a incircuncisão observa os preceitos da lei, não será ela, porventura, considerada como circuncisão? 27 E, se aquele que é incircunciso por natureza cumpre a lei, certamente, ele te julgará a ti, que, não obstante a letra e a circuncisão, és transgressor da lei. 28 Porque não é judeu quem o é apenas exteriormente, nem é circuncisão a que é somente na carne. 29 Porém judeu é aquele que o é interiormente, e circuncisão, a que é do coração, no espírito, não segundo a letra, e cujo louvor não procede dos homens, mas de Deus. Nos v. 12-13 deste capítulo Paulo havia dito que os que conhecem a lei (na maioria judeus), seriam julgados pela lei. E que para ser justificado diante de Deus, não era suficiente apenas ouvir a lei, mas praticar. Depois, passou a falar nos gentios que nunca ouviram o Evangelho, dizendo que eles tinham uma norma gravada nos corações e que seriam julgados mediante essa norma. Explicamos isso na última mensagem. Agora, do versículo 17 em diante, Paulo volta não apenas a falar dos judeus, mas escreve como se estivesse se dirigindo diretamente a um judeu. E apresenta-se duro, com graves acusações. V. 17-20: Nove características do judeu típico ideal (na época). Observe que Paulo não entra no mérito se os judeus estavam ou não vivendo de maneira coerente com essa característica que tinham: 1) Repousam na lei - a lei dava o rumo, era a autoridade entre eles. 2) Se gloriam em Deus - eram muito orgulhosos (no bom e no mau sentido), de serem o povo escolhido de Deus. 3) Conhecem a vontade de Deus - conforme revelada na Lei. 4) Aprovam as coisas excelentes - conforme a lei requeria: altíssimo padrão moral. 5) Instruídos na lei. 6) Estão persuadidos que são guias de cegos e luz dos que estão em trevas - deviam servir de guia aos povos pagãos. 7) Instrutores de ignorantes (literalmente de tolos) - cabia a eles, usando o conhecimento da lei, instruírem os que não conheciam a lei. 8) Mestres de crianças - obrigação de transmitir a lei aos filhos. 9) Estão convictos de que a lei incorpora o que existe de conhecimento e a própria verdade - convicção da origem divina e, portanto, da excelência da lei. Uma coisa deve ficar clara: os judeus são pessoas muito especiais, que foram privilegiados com muitas coisas boas da parte de Deus. Por outro lado, eles têm sobre si uma grande responsabilidade. Uma pausa aqui. À medida que lê essas características, talvez um crente comece a achar esses judeus parecidos com alguém que ele conhece muito bem: ele mesmo! Não que sejamos judeus, ou idênticos a eles em todos os aspectos, mas temos algo em comum com eles, uma vez que fomos alvos de trabalhos especiais de Deus (escolha, convicção da autoridade da Palavra dele, interesse por Deus, etc). Temos então muitas coisas parecidas com eles (dentro de limites e guardando as diferenças). Vejamos uma a uma daquelas características, pensando no crente, hoje. 1) Repousa na lei 2) Se gloria em Deus 3) Conhece a vontade de Deus (implícito: conforme revelada na Bíblia.) 4) Aprova as coisas excelentes 5) É instruido na lei 6) Está persuadido que é guia de cego e luz dos que estão em trevas 7) É instrutor de ignorantes 8) É mestre de crianças 9) Está convicto de que a lei incorpora o que há de conhecimento e a própria verdade Aí estão várias características de um crente ideal. Voltando aos judeus, onde Paulo queria chegar juntando tantas características sobre eles e deixando implícito que eles tinham grande responsabilidade? Próximos três versículos respondem: V. 21-23 Paulo deixa claro que os judeus não estavam sendo coerentes no procedimento, pois ensinavam aos outros, mas não ensinavam a si mesmos. E mais: dizem que não se deve furtar e eles mesmos furtavam. Que não se deve cometer adultério, e eles mesmos adulteravam. Que abominavam os ídolos, mas iam lá nos templos deles e ainda roubavam. Gloriavam-se na lei, mas desonravam a Deus pela transgressão da lei. Incoerência total! E se há algo que não passa em branco na vida de alguém, é incoerência. Todo mundo nota. E vêm as consequências: além da imagem ruim e perda do respeito, provoca maus comentários. E é exatamente esse tipo de conseqüência que Paulo aponta para os judeus: V. 24 Observe um detalhe fundamental: por causa da incoerência dos judeus, os maus comentários que os gentios faziam estavam respingando não sobre eles próprios, mas sobre Deus! E isso tem lógica: afinal os judeus não eram o povo de Deus? Nos próximos cinco versículos Paulo aprofunda esse problema da incoerência dos judeus, baseando-se num ponto de honra para eles: circuncisão. Os judeus tinham muito orgulho da obediência à circuncisão e achavam que isso era muito importante na religiosidade deles e no fato de serem um povo especial. V. 25-29 Apenas resumindo: A circuncisão do judeu só tem sentido se for acompanhada da obediência à lei. Um judeu desobediente, é como se fosse incircunciso, ou seja, a circuncisão não vale nada. E o contrário: um gentio (incircunciso) que observasse a lei, é como se fosse, aos olhos de Deus, circuncidado. E essa pessoa está em melhor posição diante de Deus do que o judeu desobediente. Paulo vai ao ponto de dizer que o fato de alguém ser judeu apenas de nascimento, e circunciso apenas no corpo, não é o que importa para Deus. O que importa mesmo é alguém ser dedicado a Deus no coração e ser circuncidado no espírito, ou seja, plenamente decidido a ser puro, deixando de lado as coisas pecaminosas e dedicando todo o seu ser a Deus. Mas pastor, o que eu tenho a ver com o judeu e com a circuncisão? Essas coisas não são para mim! De fato, diretamente, você não tem nada a ver com a circuncisão judaica. Mas a aplicação do que está ensinado aqui, tem tudo a ver com você. E é muito valioso. Está tudo relacionado com a questão da coerência. Já comentamos que os judeus eram pessoas muito especiais, que receberam a revelação de Deus e conheciam a lei, e foram privilegiados com muitas coisas boas. Era de se esperar que eles vivessem de modo coerente com o que conheciam sobre Deus e com tudo o que haviam recebido dEle. Mas não era o caso. Eram peritos em falar coisas bonitas, em se dizerem especiais, em querer ensinar os outros - mas na hora de praticar o que diziam, falhavam. Faziam exatamente o que condenavam nos outros. Gabavam-se de serem circuncidados em obediência a Deus, mas a circuncisão não passava de um ritual religioso externo. A circuncisão do corpo não acompanhava uma circuncisão de coração. Eram judeus só no sangue, não no espírito. Resultado: os gentios falavam mal de Deus que havia escolhido povo tão rebelde. A aplicação é óbvia: você foi escolhido por Deus para ser salvo por Cristo, recebeu o Espírito Santo, tornou-se nova criatura, tem o entendimento para compreender as Escrituras, ou seja, é alguém muito especial, que recebeu grandes bençãos de Deus. Todas aquelas características que vimos há pouco nos mostram exatamente isso. E você de fato gosta de falar que é alguém especial. Não perde a chance de dizer que é filho de Deus, herdeiro com Cristo, que é cidadão dos céus, etc. Mas a grande pergunta é: a maneira de você viver está à altura de todas as maravilhas que recebeu do Senhor Jesus Cristo? Está à altura da transformação maravilhosa que Deus operou em você? Um médico que não sabe onde fica o fígado, provoca maus comentários. Talvez tenha feito um mau curso. Ou o curso foi bom, mas ele é que foi aluno fraco. Ou será que tem QI 50? Todas as questões vêm à tona, no momento em que se vê a incoerência entre o que ele é e a maneira como procede. Esse mesmo fenômeno ocorre quando há grande distância entre o que um crente é e o modo como vive. De fato, coerência total nunca haverá, pois ainda pecamos. Mas pode e deve haver uma coerência sólida e que gera conforto nos corações de quem nos observa. Lamentável é quando essa coerência é tão pequena que se torna incoerência. Usando algumas das características anteriores, veja como é lamentável a seguinte situação: · O crente repousa na Bíblia, mas mal a conhece, não sabe argumentar, tem pouquíssima convicções próprias. · Se gloria em Deus, diz que é filho dEle, mas não O honra. · Conhece a vontade de Deus, mas faz pouco para que essa vontade seja feita. · Aprova as coisas excelentes, mas não as pratica. · Está persuadido que é guia de cego e luz dos que estão em trevas, mas pouquíssimo faz para guiar de fato essas pessoas para a luz de Cristo. · É mestre de crianças, mas falha muito em transmitir para os filhos os padrões de Deus. Pensa que isso é com o pastor e a igreja. A lista de incoerências poderia ir muito longe. Espero que a sua lista pessoal de incoerências seja bem pequena. E cada vez menor. Jamais honraremos a Deus permitindo um grande abismo entre o que somos (pela obra dEle) e o que fazemos. Agindo assim, daremos margem para que o santíssimo nome dEle seja mal falado e blasfemado no mundo. E o contrário: agindo e vivendo como verdadeiros crentes, daremos oportunidade para que os homens vejam o nosso comportamento e glorifiquem ao nosso Pai que está nos céus. - Amém -
Apoiado na Bíblia. Tem ali o fundamento firme, como na Reforma: Sola Scripturae.
A própria Bíblia diz: Aquele que se gloria, glorie-se no Senhor. 1Coríntios 1.31
O crente deve ter o maior prazer em dizer que é filho de Deus, que seu Salvador é a segunda Pessoa da Trindade, que é a habitação do Espírito Santo.
De fato é saudável o crente se gabar, sem arrogância, no seu relacionamento com o Deus Triúno.
Cada ordem bíblica, é uma expressão da vontade de Deus.
Quem deseja viver conforme as Escrituras, obviamente deverá aprovar os altíssimos padrões ali contidos.
Espera-se que o crente seja bom conhecedor da Bíblia.
Claro que estão persuadidos! Foi Jesus mesmo quem disse: Vós sois luz do mundo. (Mateus 5.14)
Talvez a ordem mais presente na mente do crente é: pregai o Evangelho. E o que é pregar o Evangelho se não instruir os que não o conhecem?
Pais crentes devem ensinar as coisas de Deus ao filho, desde cedo.
Uma das características mais marcantes dos crentes é exatamente a convicção profunda de que a Bíblia é divinamente inspirada, a própria Palavra de Deus.