PREGAÇÃO

Como reagir nos dias bons e nos dias maus (Série ECLESIASTES 27)

Ec 7.13-14      73 minutos      10/10/2021         

Mauro Clark


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Pode não parecer à primeira vista, mas os dois versículos estão relacionados, como se o segundo (v.14) fosse um complemento mais específico do primeiro.

Indicação disso é que um mesmo verbo hebraico é repetido em ambos, traduzidos por observar no v.13 e por considerar no v.14.

Ou seja, em ambos os versículos Salomão desafia o leitor a pensar, refletir.

 

v.13a

Observe as obras de Deus...

Em si mesma, já é uma grande exortação.

Muitas pessoas são rasas, preguiçosas em pensar em alguma coisa mais séria, quanto mais nas obras de Deus, em quem muitos nem creem que existe.

Mas a Bíblia, em várias passagens convida o ser humano a essa reflexão.

O próprio Deus convida Jó a uma reflexão interessantíssima sobre os animais: Jó 39

Jesus usava a Criação para lições: Mt 6.28; 8.20; 16.1-3; 24:32; Jo 16.21

Paulo falava da importância de aprender: Fp 4:9; 2Tm 3:14

 

Mas, depois da exortação geral, Salomão afina o foco, direcionando em qual obra de Deus, mais especificamente, o leitor deveria refletir:

 

v.13b

... pois quem poderá endireitar o que ele fez torto?
Ou seja, é bom refletir no que parece ser torto, errado, ruim, neste mundo.

Repetição de 1.15a: Aquilo que é torto não pode ser endireitado... (já comentamos) .

Só que ali, a afirmação é meio filosófica, impessoal.

Agora é altamente personalizada, indicando que as coisas tortas não estão ali por obra do acaso, mas de Alguém muito bem identificado: o Deus Criador!

E se alguém tentar endireitar o que Ele fez, perderá tempo, pois é impossível.

Algumas pequeninas coisas os homens conseguem melhorar com o avanço da ciência e da tecnologia, e isso não é mau. Só que são insignificantes.

As grandes catástrofes, furacões, terremotos, enchentes, secas, ninguém altera.

O problema é que o ser humano tem a infeliz tendência de não aprender com isso.

Não conclui que há um Criador acima de tudo e faz o que quer.

Essa conclusão é vital para alguém começar a compreender Deus.  

Em vez de negar a existência de Deus ou, talvez pior, entrar numa quebra de braço com Ele, acusando-O, o caminho é ver o que Ele próprio comunica aos seres humanos, através das Escrituras e o que Ele expõe através da Criação, e observar o que Ele faz e se conformar, adorando-O em qualquer situação.

 

Parece que no v.14 Salomão aumenta ainda mais a lente do microscópio.

Além de observar sobre as coisas ruins da vida em geral, cada pessoa deve refletir no que é difícil ou ruim para a própria vida.

 

v.14

No dia da prosperidade (hebr: bom), seja feliz; mas, no dia da adversidade (hebr: ruim), considere que Deus fez tanto este como aquele...

Salomão admite claramente que cada um passa por dias bons e dias maus.

Aliás, isso está implícito na famosa passagem do cap. 3 de que tudo tem seu tempo determinado, inclusive tempo para chorar e tempo de rir.

Esse pragmatismo é excelente para ajudar cada um na difícil caminhada nesta vida, especialmente os românticos e sonhadores que resistem a encarar de frente a dura verdade de que há dias maus e terminam distorcendo a realidade dos fatos.

Tudo bem que se procure alívio, tentando ver coisas boas nas dificuldades, mas sem negar o fato de que há, sim, dias muito sofridos.

 

Mas por que será que Deus decidiu por essa alternância? Por que não dá logo dias bons para todo mundo?

Uma resposta profunda deria um ou vários livros, e mesmo assim, incompletos.

Mas Salomão nos brinda como pelo menos um motivo:

 

Invertendo a ordem do versículo:

... para que o ser humano não descubra nada do que há de vir depois dele.

NVI: ... para evitar que o homem descubra qualquer coisa sobre o seu futuro.
Acho que aqui não trata da vida pós-morte, mas do futuro na terra.

A alternância deixa o futuro de cada um, nesta vida, completamente nas mãos de Deus.

Isso é humilhante e mesmo irritante para o ser humano.

Não apenas por causa arrogância e orgulho típicos do homem pecador.

Mas até mesmo por mera curiosidade, querer se prevenir, preparar defesas etc.

Mas, doa a quem doer, o fato é que o futuro pessoal de cada um na terra é vedado.

 

Já que é assim, como proceder na gangorra dos dias?

Salomão, então, dá uma fórmula simples e, novamente, pragmática.

No dia bom, seja feliz! (NVI: Aproveite-os bem. RA: goza do bem)

Aliás, Salomão já havia tocado nisso antes: Ec 3.12-13, 22. E ainda fará depois: 9.7-9

Mais uma vez, portanto, lembro que Eclesiastes não é um livro sombrio, pessimista, desanimador, que traz desespero.

O que acontece é que é um livro altamente realista e apresenta os fatos negativos com cores fortes, certa crueza.

Por outro lado, não hesita em mostrar que há coisas boas na vida e, mais que tudo, essas coisas boas podem e devem ser usufruídas.

E é não apenas possível, mas recomendável, que a pessoa viva de maneira agradável diante de Deus, ao mesmo tempo em que aproveita do que é bom, se diverte, curte bons relacionamentos, boa comida, conforto etc.

Não há pecaminosidade intrínseca nessas coisas, como Paulo diz em 1Co 6.12.

Agindo com sabedoria e temor a Deus, prazeres assim são aceitáveis a Deus.

Ou seja, não é bíblica a ideia de que ser fiel a Deus é fugir do que é agradável, viver fazendo sacrifícios pessoais, uma espécie de autoflagelo light.

 

Voltando: E como reagir no dia mau?

Se fôssemos esperar o oposto de “seja feliz” ou “goza do bem”, seria algo como “entregue-se à infelicidade” ou “amargue o mal”, ou “encare com naturalidade a chegada do desânimo, tristeza, até mesmo de uma depressão”.

Mas não é nada disso.

Então deve ser “corra para o psicólogo”, ou “leia o mais recente livro de auto-ajuda” ou “veja o mais novo vídeo evangélico com doze passos para enfrentar as dificuldades”.

Novamente, nada disso.

Não estou dizendo que essas opções não prestam e em nada ajudam. Cada uma tem sua hora e sua maneira de ajudar. Mas nenhuma delas está na base da solução.

E qual o caminho bíblico?

 

... considere que Deus fez tanto este como aquele

Conforme a Bíblia, a atitude mais eficaz para encarar o dia mau é considerar, refletir!

Mas isso é facil: agora há um aplicativo para refletir por você! Cuidado, é pura fake news!

Essa “terrível e apavorante” atividade de refletir tem de ser praticada por você!

 

Algumas implicações benéficas para quem segue esse conselho:

* Parar de se revoltar, rebelar, entristecer, desesperar com as épocas difíceis

* Lembrar que, como já houve dias bons, deverá haver outros à frente

 

Mas ainda é pouco apenas reconhecer que Deus fez tudo, você não pode fazer nada, agir com estoicismo (conformação passiva) e otimismo, esperando por dias melhores.

 

Não é explícito na passagem, mas o próprio livro de Eclesiastes (e o restante da Bíblia), nos autoriza a esperar atitudes bem mais ativas, mais eficientes na nossa comunhão com Deus, do que apenas se conformar e esperar dias melhores:

 

* Se gostou do dia bom e reconhece que Deus é quem deu, é coerente que agora tenha atitude no mínimo respeitosa e submissa a Deus, no dia mau.

* Não é porque foi fácil ser grato a Deus no dia bom, que agora a gratidão fica de lado. Certo que será mais difícil ser grato, mas é plenamente possível, mesmo com outra perspecvtiva, procurando lições, chance de amadurecer, de poder ser útil a outros, etc.

* Não cair na tentação de consultar cartomantes, videntes, sessões com “espíritos”, etc

* Se meus dias estão totalmente nas mãos de Deus, quanto mais eu me achegar a Ele e conseguir descansar na colo dEle, melhor!

Que Deus nos ajude a proceder com sabedoria no dia bom e também no dia mau. Amém.

Mauro Clark, 72 anos, pastor, pregador e conferencista, foi consagrado ao ministério em 1987. Iniciou em 2008 a Igreja Batista Luz do Mundo, que adota a posição Batista Regular. Mauro Clark é também escritor. Produziu artigos em jornal por dez anos e tem escrito vários livros de orientação e edificação cristã. Em 2004 instituiu o Ministério Falando de Cristo.
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